quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Meu avô não foi ninguém...




'Esse texto é sobre ninguém. Meu avô não foi ninguém. No entanto, QUE GRANDE HOMEM ELE FOI PARA MIM. [...] Me pegava pela mão e me levava para o Jockey, poara ver os cavalinhos. Foi uma figura masculina carinhosa em minha vida. [...]

Antes de morrer, ele me olhou, já meio lelé, e disse a frase mais linda: 'É chato morrer, ser Arnaldinho...' [...] Ele me ensinava tudo errado e, com isso, me salvou.[...]

Vovô nos ensinava a a conversar com as pessoas olho no olho. [...]

Meu avô adorava a vida e usava sempre o adjetivo 'esplêndido', tão lindo e estrelado. A laranja chupada na feira estava 'esplêndida', a jabuticaba, a manga carlotinha, tudo era 'esplêndido' para ele, pobrezinho, que nunca viu nada; sua única viagem foi de trem a Curitiba, de onde trouxe mudas de pinheiros. 'ESPLÊNDIDAS...'
[...]
Velho gagá, deu pra dizer coisas profundissímas. Uma vez, já nos anos 70, celebrei para ele as maravilhas lisérgicas do LSD que eu tomara. Ele me ouviu falar em 'delírio de cores', e comentou: "Cuidado, Arnaldinho, pois nada é só bom...' Outra vez, vendo passar um super-ripongão sujo, "bicho-grilo brabo", comentou: "Olha lá. Um sujeito fingindo de mendigo para esconder quem realmente é...!"

Há dois anos, na exumação de um parente, o coveiro colocou várias caixas de ossos em cima do túmulo. Numa delas estava escrito a giz: "Arnaldo Hess". Não resisti e levantei de leve a tampa de zinco. Estavam lá os ossos de vovô. Vi um fêmur, tíbias, que eu toquei com a mão. Vocês não imaginam a infinita alegria de, por segundos, encostar em meu avô querido. Eu estava com ele de novo em 1952, sob o céu azul do Rio.
MEU AVÔ NÃO ERA NINGUÉM. MAS NUNCA HOUVE NINGUÉM COMO ELE.'
(Arnaldo Jabor)

Especialmente à Antonico Balde... meu avô tão amado!!!!

Aonde quer que eu vá, levo vc!!!

Saudades!!

Meyriany.

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